Destaques da Semana
Energia
Novamente o setor de energia foi o foco da semana. Duas situações merecem destaque: i) a pressão do Governo Biden sobre as empresas de Óleo & Gás destacando os lucros enormes e ii) a decisão do FED de elevar o FED Funds em 0,75%.
Pressão do Governo EUA
Como qualquer indústria investe, especialmente commodity?
Olhando para a capacidade de utilização do parque atual em relação ao “esperado nos próximos anos”. Esse período de observação futura pode variar de setor para setor.
Então, no caso do Refino, dependendo da complexidade da unidade, qual tipo de petróleo será usado, acesso a água para resfriamento, demandas ambientais e outros fatores que influenciarão o custo do investimento inicial, uma refinaria leva entre 5 e 7 anos para ser construída e pode custar entre U$ 5b e U$ 15b. Esse custo depende do volume que será processado, entre 250.000 e 500.000 barris dia, por exemplo.
Então, como podemos ver no gráfico acima, a capacidade de refino está estável desde 2017/2018, mas por quê?
Após a COP de Paris em 2015, o setor vem sendo pressionado pelos Governos e Investidores com a agenda ESG, consequentemente, as líderes do setor vinham diversificando seus investimentos em fontes renováveis e estabilizando – até mesmo reduzindo – os objetivos de prospecção e refino de fósseis. Mas como estamos vendo hoje, é uma indústria de risco, intensiva em capital e com uma demanda global de 100 Mbpd, ou seja, as mudanças terão de ser mais lentas que o esperado.
Esta semana a CNN – rede líder dos progressistas – entrevistou a Secretário da Energia dos Estados Unidos Jennifer Granholm. Num certo momento, até o entrevistador ficou surpreso com as demandas inconsistentes da Secretária, pedindo aumento de produção de destilados hoje, mas também observado que as metas climáticas serão observadas.
No Estoques de Petróleo EUA – EIA – Nº 47 – Wolf Picks desta semana, o leitor poderá observar que as refinarias seguem produzindo entorno 20 Mbpd em produtos, em linha com a média dos últimos 5 anos. Também poderá ser observado que a produção de gasolina e diesel, também está em linha com a média do mesmo período e o que cai são os estoques. O que está realmente faltando são as importações de derivados Russo, mas é mais fácil acusar a indústria que admitir esse fato.
Apenas para fechar com um dado. Desde 24/02/22, data do início do conflito na Europa, a utilização média das refinarias está em 91,7% e nas últimas 4 semanas subiu para 93,5%. Difícil saber onde Biden deseja chegar com essa pressão, pois nenhuma companhia em sã consciência irá iniciar uma expansão ou nova unidade de refino em 2022. Se estiver tentando criar as condições para aumentar impostos do setor, ou proibir exportações de derivados, no fim do dia estará apenas piorando o ambiente de negócios já prejudicado.
FED e o 0,75%
No dia 10/06/22, exatamente uma semana antes da queda forte dos preços do petróleo de 17/06/22, tivemos a divulgação do CPI – Consumer Price Index – dos EUA que levou a um certo desespero. Consequentemente, “abrimos” a semana no dia 13/06/22, já com artigos na midia sobre a possível alta de 0,75% do FOMC na quarta dia 15/06/22.
Esse foi o pano de fundo “histórico” para o “desespero” visto dia 17/06/22. Mas de fato o que mudou? Sinceramente, 0,50% ou 0,75% mudarão significativamente o que estamos vendo hoje? Acho que não.
No mesmo dia 17/06/22, a Revista Baron’s – do WSJ – publicou alguns artigos com Larry Summers:
“There are people who believe that we’ve had a decadelong era of excessively easy money, and that it set the stage for our current problems. I reject that belief. My belief, up until the Covid moment, was that the economy was in a situation of what I labeled secular stagnation, where a chronic excess of savings over investment meant that you needed very low interest rates to keep the economy moving and growing. If anything, the risks were on the side of deflation. I saw a gap that I could never quantify precisely, but perhaps on the order of 4% to 5% between savings and investment. The problem came when, in response to the pandemic, we decided to inject 12% or more of gross domestic product in fiscal stimulus.”
O debate sobre “hard landing” ou “soft landing” está aberto e sigo na linha do “hard”. Em algum momento o FED será obrigado a fazer algo drástico, pois acreditar que com o ritmo atual, chegando a 3%- 3,5%, levará a inflação de volta 2% até maio de 2024 é duro de acredita.
Anda “tem muito para passar debaixo dessa ponte” até os preços de petróleo e energia se estabilizarem a reverterem a tendencia secular de alta.
Agrícola
Semana de queda para trigo – 3,41% – e de alta para o milho – 1,45%. Depois da queda acentuada do trigo nos últimos 30 dias de 16%, após a teórica reabertura dos portos do Mar Negro, os preços começam a se estabilizar novamente.
Vale ressaltar que os preços da Ureia – principal fertilizante nitrogenado – voltaram a subir, interrompendo uma queda que começou em abril. Os produtores agrícolas fazem suas compras de fertilizantes, com uma antecipação de pelo menos seis meses antes do plantio. Vamos ver como serão as próximas safras, em termos de custo e oferta total.
Metais & Minérios Industriais
Pouco a acrescentar, pois um cenário recessivo global impactaria fortemente a indústria e seus insumos. Então, faz sentido a semana fraca em minério de ferro e cobre, por exemplo.
Fretes Marítimos
Muito curioso, o Baltic Dry e o Capesize continuam subindo, mesmo com essa sensação dominante que a China está desacelerando. Vale notar também que, nas últimas semanas o Harpex – container – vem lentamente evertendo a baixa do início do ano.
Mercado
Energia
Petróleo (Brent) – Os contratos futuros de petróleo Brent caíram 5%, para US$ 114 por barril na sexta-feira, o nível mais baixo em três semanas, e estavam a caminho de sua primeira perda semanal desde o início de maio, com os mercados sobrecarregados por uma perspectiva altamente incerta de crescimento global e demanda de combustível após vários aumentos de taxas em todo o mundo esta semana. Bancos centrais de todo o mundo aumentaram as taxas de juros nesta semana, liderados pelo aumento de 75 pontos-base do Federal Reserve diante da inflação crescente em todo o mundo. Analistas argumentaram que medidas duras eram necessárias para acompanhar o crescimento dos preços, mas também alertaram para uma maior chance de recessão. A alta dos preços do petróleo e as perspectivas econômicas vacilantes, de acordo com a Agência Internacional de Energia, obscureceram as perspectivas de demanda futura. Enquanto isso, os investidores permaneceram cautelosos com as restrições de oferta após o anúncio dos Estados Unidos de novas sanções contra o Irã. Isso aumentou os temores sobre os déficits de produção dos membros da OPEP e as interrupções causadas pela agitação na Líbia e pela guerra da Rússia na Ucrânia.
Gás Natural (NG – USA) – Depois que os dados revelaram que os estoques cresceram na semana mais recente, os futuros de gás natural dos EUA estavam sendo negociados abaixo de US$ 7,4 por milhão de unidades térmicas britânicas, indicando uma perda semanal de 16%, a maior desde 2022. De acordo com o relatório semanal da EIA, as concessionárias injetaram 92 bilhões de pés cúbicos de gás natural em armazenamento subterrâneo, que está substancialmente acima da construção média de 5 anos de 79 bilhões de pés cúbicos. Ao mesmo tempo, os traders preveem que 40 bilhões de pés cúbicos adicionais de gás natural estarão disponíveis no mercado doméstico, enquanto o terminal de exportação de Freeport LNG ficará indisponível por muitos meses devido a extensos reparos. Enquanto isso, depois que a Gazprom reduziu grandes volumes de suprimentos para países da UE, incluindo uma redução de 60% nos fluxos de gasodutos Nord Stream para a Alemanha, espera-se que a demanda do exterior permaneça robusta.
Gás Natural (TTF – EU) – À medida que a Gazprom aperta a oferta para a UE, os futuros europeus de gás natural oscilaram entre ganhos e perdas na sexta-feira, sendo negociados cerca de € 123 por megawatt-hora à tarde, depois de atingir brevemente uma alta de dois meses de € 149 na sessão anterior. A gigante estatal russa do gás cortou mais fornecimentos de gás para a Itália, com a ENI pronta para receber apenas metade do gás solicitado, enquanto os fluxos para a Alemanha através do principal gasoduto Nord Stream foram reduzidos em 60%, colocando a meta da UE de encher 80 % da capacidade de armazenamento antes da próxima estação de aquecimento de inverno em perigo. Após uma explosão no Freeport LNG, que responde por cerca de 20% da capacidade total de liquefação dos EUA, os comerciantes já estavam precificando a possibilidade de menos cargas de GNL dos EUA. Os reparos levariam meses, de acordo com a empresa, e a instalação estaria totalmente operacional no final de 2022. Semanalmente, o contrato deve aumentar 50%, o maior desde a primeira semana da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Gás Natural (UK Natural Gas) – Depois de cruzar brevemente a marca de 300 pence em uma tumultuada sessão de quinta-feira, os futuros de gás natural do Reino Unido caíram para 230 pence por therm na sexta-feira, com as notícias de que o Reino Unido havia contratado suprimentos extras da Noruega acalmou os temores sobre as restrições parciais de fornecimento da Gazprom. O acordo entre a Equinor, uma empresa estatal norueguesa, e a Centrica, uma concessionária britânica, garante à concessionária britânica 10 bilhões de metros cúbicos de gás, o suficiente para os próximos três invernos. Apesar disso, o contrato está definido para um ganho semanal de 55% em uma semana marcada pela decisão da Gazprom de bloquear 60% dos fluxos no oleoduto Nord Stream e a ameaça de redução das importações de GNL dos EUA, após um acidente em um importante exportador terminal que exigiria meses de reparos. Como o Reino Unido não tem capacidade de armazenamento e depende significativamente de importações, os preços no Reino Unido normalmente seguem o contrato TTF holandês de referência regional.
Gasolina (Gasoline RBOB – USA) – Os contratos futuros de gasolina caíram mais de 5%, para US$ 3,7 por galão, colocando-os a caminho de uma perda semanal de 12%, em meio a preocupações crescentes de que uma desaceleração econômica global desencadeada por um aperto monetário agressivo e infecções crônicas por coronavírus na China reduzirão a demanda. O Federal Reserve dos EUA elevou as taxas de juros em 75 pontos-base, a maior desde 1994, e reduziu as previsões de crescimento do PIB, levantando preocupações sobre o ônus dos pagamentos de dívidas para empresas e consumidores, bem como a possibilidade de uma recessão. Em 6 de junho, o contrato atingiu um novo recorde de US$ 4,33, impulsionado por um mercado muito apertado, já que a demanda continuou superando a capacidade total de processamento, enquanto os países da OPEP + lutavam para atingir suas metas de fornecimento de petróleo.
Carvão (Coal Newcastle) – Os futuros de carvão de Newcastle, referência para a principal região consumidora da Ásia, estavam sendo negociados abaixo de US$ 400 por tonelada, um nível não visto em quase um mês, já que o aumento dos estoques e a menor demanda mantiveram o mercado sob pressão. Ainda assim, os preços do carvão subiram, chegando a US$ 430 no final de maio, apoiados por um mercado cada vez mais apertado à medida que o mercado global de energia foi sacudido pela invasão da Ucrânia pela Rússia e sanções econômicas sem precedentes, incluindo o embargo da UE às importações russas de petróleo e carvão.
Uranio (Uranium) – Os futuros de urânio caíram para US$ 49 por libra-peso de uma alta de um mês de US$ 52,4 em 9 de junho, citando a diminuição da demanda de energia em meio a temores de recessão iminente e investidores de olho na fonte de combustível nuclear para as concessionárias dos EUA. O governo dos EUA decidiu não aplicar nenhuma penalidade ao combustível nuclear russo após meses de deliberação. No entanto, a demanda por importações de combustível nuclear russo deve cair depois que o governo Biden pressionou o Congresso para aprovar um plano de US$ 4,3 bilhões para comprar urânio enriquecido inteiramente de enriquecedores ocidentais e revendê-lo para empresas de energia nuclear americanas. As sanções já haviam pressionado as concessionárias europeias a evitar o uso de combustível nuclear russo enriquecido. A Rússia foi responsável por 43% do enriquecimento global de urânio em 2020, de longe a maior parcela de qualquer país.
Agrícola
Milho (Corn) – Os futuros de milho atingiram uma alta de quatro semanas de US$ 7,96 por bushel em meados de junho, não muito longe de um pico de quase 10 anos de US$ 8,1 estabelecido em abril, devido a novas preocupações com a oferta de grãos. Apesar dos esforços turcos para criar um corredor seguro para grãos retidos nos portos do Mar Negro, as negociações entre a Rússia e a Ucrânia, os dois maiores produtores globais de milho, não conseguiram retomar as exportações ucranianas. A Ucrânia alegou que a Rússia estava impondo termos onerosos, enquanto o Kremlin afirmou que o frete grátis dependia do levantamento das sanções. Enquanto isso, após anos de negociações, Pequim e Brasília finalizaram negociações vitais para iniciar as exportações de milho do Brasil para a China.
Trigo (Wheat) – Os futuros do trigo de Chicago subiram para mais de US$ 10,7 por bushel, recuperando-se da mínima de duas semanas de US$ 10,3 no início de junho, em meio a relatos de condições desfavoráveis de crescimento na América do Norte, enquanto tensões geopolíticas e preocupações com a segurança alimentar continuam impedindo o comércio global. As colheitas de trigo de inverno nos cinturões de cultivo dos EUA foram ameaçadas pelo tempo seco prolongado. Enquanto isso, os investidores estavam atentos aos desenvolvimentos diplomáticos em torno das prováveis exportações de grãos da Ucrânia. À medida que as conexões econômicas entre o Ocidente e Moscou se deterioram, as expectativas para a retomada das exportações da Ucrânia caíram ainda mais, tornando improvável que o Kremlin abra corredores comerciais nos portos ucranianos do Mar Negro e do Mar de Azov. Desde que os embarques foram suspensos em 24 de fevereiro, espera-se que 22 milhões de toneladas de grãos ucranianos fiquem retidos nos silos do porto. O embargo de exportação imposto pela Índia também ajuda a estabilizar os preços. Apesar dos relatos de que o governo está considerando reabrir o comércio com a Indonésia, as exportações para outros países foram interrompidas.
Soja (Soybeans) – Em junho, os futuros de soja de Chicago ultrapassaram US$ 17,7 por bushel, fechando perto da máxima histórica de US$ 18 estabelecida em 2012, em meio a sinais de forte demanda de grandes importadores e oferta limitada de produtores-chave. A China, o maior consumidor do mundo, pode aumentar os gastos à medida que sua economia reabre após anos de restrições.Enquanto isso, as inspeções de soja dos EUA ficaram aquém das previsões pela segunda semana consecutiva, implicando exportações mais fracas, enquanto a demanda por frete permaneceu forte. Somando-se às dificuldades, o aumento dos preços dos fertilizantes como resultado do conflito na Ucrânia pode prejudicar as projeções otimistas de produção dos principais produtores sul-americanos, como Brasil, Argentina e Paraguai. O Brasil, maior produtor de fertilizantes do mundo, importa 85% de seus fertilizantes, a maioria dos quais vem da Rússia.
Metais & Minérios Industriais
Alumínio (Aluminum) – Os preços do alumínio estavam acima de US$ 2.500 por tonelada, um nível não visto desde julho de 2021, apesar da fraca demanda e do aumento da produção. As preocupações com a desaceleração do desenvolvimento global, combinadas com a alta inflação e os preços dos empréstimos disparados, sufocaram a demanda de construção, principalmente na China, onde os surtos recorrentes de coronavírus continuaram a causar estragos na economia. Além disso, a produção mensal de alumínio da China atingiu um novo recorde em maio, apesar do levantamento das restrições de consumo de energia. Enquanto isso, devido ao aumento dos preços da energia exacerbado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, as fundições de alumínio europeias continuaram a cortar a produção.
Minério de Ferro (Iron Ore) – Os preços dos carregamentos de minério de ferro com teor de ferro de 63,5 por cento para entrega em Tianjin caíram para cerca de US$ 130 por tonelada, uma baixa de três semanas, já que repetidos surtos de coronavírus na China aumentaram os temores de bloqueios, reduzindo a demanda na maior siderúrgica do mundo. As perspectivas de que a China tome medidas para impulsionar sua economia colocam um piso nos preços, enquanto a oferta dos grandes exportadores Austrália e Brasil parece estar abaixo da capacidade.
Cobre (Copper) – Os futuros do Cobre atingiram um novo mínimo de US$ 4 por libra-peso, o menor desde setembro, em meio a crescentes temores de que uma desaceleração econômica global, exacerbada por uma postura agressiva dos principais bancos centrais e surtos de coronavírus em curso na China, reduza a demanda. Os números preliminares da produção industrial da China, maior consumidor do mundo, sugerem um aumento da atividade econômica. Esta semana, o preço do ouro caiu cerca de 5%, colocando-o no caminho para um segundo declínio semanal consecutivo.
Posições em Aberto de WTI futuro na NYMEX
Toda sexta-feira a CFTC (Commodity Federal Trading Comission) divulga o mapa de todos os ativos negociados nos mercados futuros americanos. Vale ressaltar que essas posições se referem sempre a terça-feira da mesma semana.
As posições em aberto na semana passada foram medidas até a véspera do FOMC e percebemos uma forte redução das Posições Liquidas Compradas dos Especuladores (Assets), que são mais sensíveis aos fundamentos macro, onde as decisões do FED pesam mais. Então, durante os dois dias que antecederam a subida de 0,75% vimos uma queda leve nos preços, mas nos pregões de 16 e 17/06 as quedas foram mais fortes.
É muito difícil dizer algo sobre dados futuros, mas coloquei abaixo uma comparação entre a variação liquida de Especuladores e Produtores para análise conjunta e assim tentar chegar a uma hipótese sobre os dois últimos pregões da semana passada.
No primeiro gráfico, podemos ver o que eu já havia comentado aqui através do empirismo. Os Produtores tendem a aumentar suas posições liquidas compradas perto dos $100 e a diminuir na área dos $120.
Já os Especuladores, vem consistentemente reduzindo as posições liquidas compradas desde o início do ano, esperando por uma decisão mais clara do FED sobre juros.
Então, como pura especulação, acredito que os Especuladores, pós decisão do FED, tendem a ter reduzido suas posições liquidas compradas mais fortemente, enquanto os produtores podem ter trocado o nível de $ 100, pelo de $ 110. Só saberemos ao certo pelo movimento do mercado na próxima semana.