Na semana passada o IEA divulgou o Renewable Energy Market Update – May 2022 com grande orgulho. Entre outras coisas, disse que o investimento em energias intermitentes, como solar e eólica, cresceu acima do esperado e que, com os incentivos governamentais, daqui para frente devem crescer mais ainda. É sem dúvida uma excelente notícia, se não fosse por um pequeno detalhe:
“However, how rapidly renewables can substitute fossil fuels hinges on several uncertainties and will depend on many factors. Will renewable electricity sources defy this global energy crisis and continue to expand quickly despite emerging political and macroeconomic challenges? At the same time, growth in biofuels demand faces significant headwinds from both lower transport demand growth and high biofuel prices. Will demand growth resume at historical rates?”
Não acho que deveria ser assim. A Transição Desordenada se baseia na “constatação” de que, como fizemos pouco nas últimas décadas, agora se tornou fundamental reduzirmos a geração de energias com fontes fósseis a “qualquer preço”.
Essa expressão, “qualquer preço” ou “no matter what” abrem espaços onde, atitudes arbitrárias, podem ser tomadas devido a uma suposta urgência, tudo se justifica. Por exemplo, fico lendo matérias nas mídias ocidentais sobre os campos de tortura de ucranianos por russos, mas vale lembrar que a prisão americana de Guantánamo nunca foi uma colônia de férias. E tudo se justifica pela narrativa, que na época foi o terrorismo e agora é essa necessidade de “salvar a civilização”.
Sempre existirá uma desculpa, uma narrativa de salvação, e devemos olhar o que está por traz delas.
Acredito que estamos presenciando mudanças climáticas, mas a falta de contraponto, vem a cada dia me causando mais estranheza. Passei a acreditar que, por traz dessa narrativa, a realidade pode ser apenas econômica.
O Fato que devemos olhar é simples: para que as energias intermitentes façam sentido econômico, o preço da geração fóssil tem de permanecer alto ou o mais alto possível, ou teríamos uma “inundação” de subsídios.
Dentro dessa lógica, faz sentido o conflito na Europa, pois no fim do dia, o objetivo é tirar oferta do mercado para que os preços subam, mas mantendo a demanda o mais alta possível.
Então, boicotar a Rússia e deter a expansão de nova capacidade nos EUA são peças-chave para que os preções permaneçam altos e é exatamente o que o Governo Biden vem fazendo.
No sistema capitalista que conhecemos (ou conhecíamos), o nível atual de preços do petróleo deveria estar “chamando” MUITOS investimentos novos, mas não está e por quê? Duas coisas:
- O constrangimento gerado pela agenda ESG ativista não está atingindo apenas as Cias, também constrange os seus administradores e conselheiros com ameaças de litigâncias judiciais. Ou como disse Larry Fink, micro-gestão. Tudo tem de ter limites, mas a SEC parece não estar preocupada com isso.
- O esforço que os políticos democratas estão, no sentido de retirar os incentivos econômicas da indústria de fósseis através da regulação é digno de nota. Ao mesmo tempo em que o Governo Biden se diz preocupado com os preços dos combustíveis, os reguladores e legisladores fazem todo o possível para, aumentar custo de exploração e produção e usando regulação para criar o máximo possível de dificuldades para novos licenciamentos em áreas federais.
A questão dos fertilizantes também deve entrar nessa “conta”, sem os produtos que se originam em fósseis, perderíamos 50% da produção global de alimentos. Mas tudo pela transição.
Então, olhando para o futuro, o objetivo dos Governos da América no Norte e Europa parece ser, mantes os preços (custo) de tudo relacionado a fósseis, num nível tão crítico de preço que tudo se justifica, investimento em energias intermitentes e novos subsídios, pois a renda só cairá. Até uma “guerrinha”, onde não morram cidadãos desses países tão focados no “futuro da humanidade”.
Que todos me desculpem, mas isso não pode ser objetivo de Governo, o empobrecimento e fome global, pelo objetivo da transição. Me parece muito mais um objetivo geopolítico e principalmente empresarial.
O custo da Transição Desordenada está apenas no início, como já disse muitas vezes, o risco de retrocesso devido ao excesso só cresce, porque contra empobrecimento e fome não existe narrativa que fique de pé.
Devemos nos preparar para preços de petróleo a U$ 200,00, não porque sou apocalíptico, mas sim porque é o desejo dos Governos de América do Norte e Europa, pois os custos associados a energias intermitentes só cresceram, dado questão de ativismo climático em relação a mineração e dificuldades nas cadeias de suprimento globais