Sugestões para abril 2022:
Juros: Ainda sugiro aplicações pós-fixadas em índices de inflação. Ainda tem muita “água para passar por baixo dessa ponte” até o Bacen retomar o controle.
Câmbio: Esse movimento recente de apreciação é muito bem-vindo e poderá ser um movimento mais duradouro, mas provavelmente após as eleições de novembro. Até lá, acredito que a apreciação, dado a inflação brasileira no atacado, tenha encontrado um limite.
Bolsa: Ainda sigo com o call de commodity e exportadores. A posição de Petrobras na Carteira Recomendada da BRL foi prejudicada pela movimentação para a próxima AGO (Assembleia Geral Ordinária) em 13/04/22, mas a empresa segue com um desconto absurdo em relação a seus pares internacionais. Seguirei com as commodities, pois acho que o realinhamento geopolítico será na valorização delas.
Alguns Acontecimentos Macro selecionados do mês anterior –março de 2022
No Brasil, acredito que dois fatos foram mais relevantes para o mercado: i) a surpresa negativa do IPCA-15 e ii) quase concomitantemente com isso, o presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, sinalizou que o ciclo de aperto monetário deve terminar em breve.
No exterior, ao contrário do Brasil, após a decisão do FOMC, o presidente do FED, Jeromy Powell, declarou que os juros poderão seguir para 0,5% de alta. Ele inverteu a direção da coletivas pós FOMC.
No fim do dia, tudo leva a crer que, enquanto no Brasil o ciclo pode estar terminando, nos EUA e EU, o ciclo de aperto pode estar apenas se iniciando.
Em relação a emprego, Caged (Brasil) e Payroll (EUA) os números do mês seguem firmes, sem grande alteração em sua trajetória.
Temas de Investimento
Sigo acreditando que o tema relevante para investimento seja INFLAÇÃO. Para mim, o ciclo brasileiro não acabará em breve. O FED está muito “behind de curve” e “correr atrás” agora, poderá realmente trazer efeitos maléficos para a economia. Portanto, acho que ele permanecerá elevado os juros lentamente, assim como vimos no Brasil, e a consequência será de uma consolidação inflacionária num patamar mais alto que o esperado, antes de voltar a cair.
Acima segue o cenário da inflação no Brasil, EUA, Alemanha e Eurozone, ainda sem aparente reversão de sua trajetória.
Vale ressaltar que, as dificuldades nas cadeias de suprimentos global retornaram com força devido a dois eventos já muito conhecidos: i) conflito Rússia – Ucrânia e ii) lockdown maior que o esperado na China.
Estamos vendo a midia falar diariamente sobre esses os dois temas internacionais acima, mas as notícias sobre as consequências para preços ainda não fazem parte desse noticiário.
Por exemplo, o Índice de Preços de Alimentos da FAO (FFPI), em fevereiro (antes do início do conflito), subiu 3,9%. Em 08/04/22, teremos s divulgação referente a março, assim poderemos ver já os efeitos das cadeias de suprimento sobre os preços dos alimentos.
Mercado Doméstico
Juros:
Acima a movimentação da ETTJ da Andima ao longo do mês de março. Podemos observar que a dispersão no final da curva e muito maior que no início. Isso é normal dado a diferença na visibilidade aos prazos, mas vale destacar que, terminamos o mês de março no piso das expectativas para a curva de juros esperada. Sem dúvida efeito da fala de RCN (Roberto Campos Neto)
O curioso desse movimento em março segue abaixo:
Acima veremos o impacto da mudança na expectativa anual para o IPCA de 2022 e suas categorias divulgadas no Focus, após aumento dos combustíveis realizado em março pela Petrobras.
É normal que, com esse alta para 2022, o ano subsequente, 2023, apresente queda relativa a expectativa anterior, dado o efeito base. Mas não é o que estamos vendo.
Acima podemos ver o desempenho para a inflação esperada para o ano seguinte, ao longo do 1º trimestre de 2021 e 2022. Fica claro que, esse ano, o mercado vem ajustado a expectativa inflação para ano seguinte mais rápido que em 2021.
Isso significa que, a potência “esperada” da política monetária para 12 meses à frente, resultado dos aumentos da Selic atuais, apesar do Selic já muito mais alto que em 2021,deveriam estar surtindo o efeito esperado sobre a expectativas para 2023 e sua convergência para a Meta.
Podemos ver acima que, em 2021 a Meta e o Topo da Banda foram perdidos. Em 2022, estamos caminhando para o mesmo cenário, perda da Meta e do Topo.
A questão que se apresenta é: A aceleração que começamos a perceber nas expectativas para 2023, já a está acima da Meta. O que acontecerá se ela encostar ou ultrapassar o Topo? Será que o Bacen não deveria aprofundar ainda mais a subida de juros?
Cambio:
Em março de 2022 o Real (BRL) se apreciou perante o Dólar (USD) 7,81%, depois de ter se apreciado 4,0% em janeiro e fevereiro consecutivamente. No ano, o BRL acumulou uma apreciação de 15,10% contra o USD.
A princípio podemos observar duas razões práticas para isso: i) juros nominais ascendentes que atraem capital de curto prazo para arbitragem financeira e ii) nossa economia ainda se baseia em commodities.
Um país que exporta petróleo e grãos fora da zona de conflito da eurásia, passa a ser um potencial de atração de capital. Isso não se aplica apenas ao Brasil, mas a antes “largada” LATAM.
Acho que vale muito ressaltar o seguinte. O exportador é afetado pela taxa de cambio real, no gráfico acima, que é a taxa nominal ajustada pelo diferencial de inflação contra o USD ou contra diferencial de inflação ponderada pela inflação de uma cesta de países relevantes em nossa pauta de exportação.
Voltando ao primeiro gráfico da Carta, a percepção que a inflação brasileira estaria se estabilizando, com chances de queda à frente, em relação à inflação de grande parte dessa cesta de outras moedas, vem ajudando muito a apreciação do BRL. Se por qualquer razão, nossa inflação voltar a se acelerar em relação ao mundo, a apreciação do BRL deve parar.
Renda Variável:
A grande novidade do mês de março foi a desconcentração de performance do Ibovespa.
O 1º Quartil de setores, que detém 70% do Índice, perdeu fortemente participação na performance das ações em comparação a performance no ano. O ganho de participação do 2º Quartil foi relevante em março. Tal movimento pode estar relacionado a volta do fluxo de pessoas físicas ao mercado de ações, mais do que relacionada a entrada de estrangeiros, que normalmente se concentram na ações do 1º Quartil.
Mercado Internacional
Juros:
O grande debate no mercado, após a fala de Jeromy Powell foi a inversão da curva de juros nos EUA.
A inversão significa: o mais curto, no caso 2 anos, acima do mais longo, o 30Y.
O leitor pode visualizar esse movimento de alta dos curtos ao longo de março, especialmente após a referida fala de Powell. Inclui o dia 01/04/22, pois vimos um movimento significativo nos curtos após a divulgação dos dados de desemprego nos EUA.
Vale ressaltar que, em tese, a inversão deveria vir precedida de um “fletamento” da curva, onde ela tende a se mover de forma paralela. Acho precipitação do mercado ir direto para a inversão, dado que a inflação de curto prazo “roda” tranquilamente acima de 6% e deve estar se encaminhando para 3% em prazos mais longos. Isso pode dificultar muito a condução da politica monetária devido a percepção de juros reis negativos permanecendo na curva. Pensar que com esse nível de emprego, pensar que o certo ainda seriam juros reais negativos, altamente estimativos, seria ingenuidade.
Cambio:
O gráfico abaixo é meramente explicativo. O DXY é um número índice de uma cesta de moedas de economias desenvolvidas contra o USD. As maiores pesos são: JPY (yen japonês), EUR (euro) e GBP (libra inglesa).
Então, quando a linha vermelha sobe, o USD se VALORIZA contra as principais moedas do ocidente.
A linha azul é o nosso BRL. Já sabemos que quando ele cai, significa que o BRL se valoriza perante o USD.
Em resumo, o gráfico abaixo apenas explica que, o BRL vem se valorizando perante todas as principais moedas do ocidente, ou seja, pode estar inserido num movimento mais longo de realocação global de moedas saindo de países desenvolvidos para entrar moedas de países emergentes devido as mudanças geopolíticas que estamos vendo.
Renda Variável:
A muito tempo eu já deveria ter colocado dessa maneira: os pesos do S&P500.
Quase um terço do Índice é formado por empresas de TI, incluindo, Amazon, Facebook, Google, Microsoft e por aí vai.
A razão da resiliência dos Índices nos EUA está muito ligada a performance desse setor, que desde a pandemia vem mostrando extrema resiliência. Fato que, a taxa de crescimento das receitas e a taxa de crescimento da penetração, já não estão como antes, mostra que a resiliência só cresceu.
Resultado, os Índices já não dispara como antes, dado inflação e expectava de atuação do FED, mas também não cai violentamente. Esse movimento pode indicar apenas uma “deflação” nos múltiplos desse setor, com o aumento do crescimento das receitas ao PIB, mais do que uma ruptura devido à alta de juros.