A tentativa do Governo Biden de impor uma narrativa determinada na esperança de reverter a enorme queda de popularidade de seu Governo, vista em pesquisas recentes da NBC e Gallup, está ultrapassando o limite do razoável.
Hoje, 31/03/22, a Casa Branca divulgou o “FACT SHEET: President Biden’s Plan to Respond to Putin’s Price Hike at the Pump”, atribuindo a culpa da gasolina ter alcançado $ 4,20 no varejo a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Isso é um absurdo completo.
Atribuir 100% da alta da energia em geral a Rússia não é verdade. Como veremos abaixo, o cenário que vivemos hoje, apenas está sendo aproveitado pela Rússia, mas de forma alguma foi construído por ela.
O preço da gasolina no varejo americano
Podemos ver acima o que já sabemos, que os preços num mercado livre de combustíveis seguem a tendencia do produto básico, no caso o WTI.
Dito isso, entre 27/12/21 e 28/03/22, o WTI variou 40,3% e a Gasolina no varejo 29,3%, ou seja, um diferencial de -10% a favor do consumidor americano.
Produção Americana de Petróleo – Shale + Convencional
Os dados acima são dados mensais, diferentes dos dados do nosso relatório semanal de estoques. Mas de qualquer forma, fica claro que o perfil da produção americana mudou radicalmente desde 2014/2015, com o Shale passando a liderar o forte crescimento.
Como venho repetindo exaustivamente toda semana, os EUA produziram quase 13 Mbpd em janeiro de 2019, então porque estamos vendo 11,7 Mbpd (dado de ontem) em vez de, digamos, 14 Mbpd dado o incentivo de preço?
A gasolina está cara nos EUA apenas e apenas por uma decisão política do partido de Joe Biden.
Assim como o diagnostico da inflação transitória se mostrou equivocado, o atual diagnostico de que a gasolina está cara por causa da Rússia será derrubado com o tempo.
Pressão sobre a indústria
Em meados de março, o Congressional Progressive Caucus divulgou “Recomendations for Executive Action”, um documento de seis páginas descrevendo políticas que os democratas de esquerda não conseguiram convencer nem mesmo um Congresso controlado pelos democratas a aprovar. Depois de não conseguirem aprovar ou mesmo convencer o Congresso a aprovar essas políticas, agora pressionam Biden para usar Ordem Executiva (algo como nossa MP) para implementar na marra.
O escopo das mudanças pelas quais os democratas estão pressionando é impressionante. O documento pede que Biden declare uma emergência climática nacional. O Progressive Caucus quer que Biden use a Lei Nacional de Emergências de 1976 para paralisar a produção doméstica de energia. Eles exigem uma proibição total da produção de combustíveis fósseis em terras federais, o fim das exportações de petróleo doméstico e impostos mais altos sobre as empresas petrolíferas.
Não satisfeitos com esse tipo de ameaça a indústria, a senadora Maria Cantwell, presidente do Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, marcou para dia 06/04/22, uma audiência para examinar o impacto do aumento dos preços do petróleo no comércio e nos consumidores, e convidou os principais executivos da indústria petrolífera para testemunhar.
Então, o diagnóstico Progressista de que, o problema é simplesmente a “ganância” das grandes corporações poderá nos levar a uma situação trágica. Digo nós, porque a paralização da produção doméstica americana seria um problema para todos.
Como já aprendemos no Brasil, investimento requer estabilidade política, legal e regulatória. Assim, a falta de novos investimentos no setor é apenas um reflexo da realidade política atual.
Novas área federais para exploração
Apenas para lembrar, o Congressional Progressive Caucus demanda de Biden a paralização da produção de fósseis em terras federais.
A cera da dez dias atras foi divulgado na midia que o Despertamento do Interior reiniciaria seu planejamento para arrendamento de petróleo e gás em áreas federais, depois que um tribunal federal colocou o custo social do carbono do governo de volta ao jogo e cancelou a última licitação de novembro de 2021.
No dia 29/03, representantes da indústria de O&G, como a American Petroleum Institute (API) e da National Ocean Industries Association (NOIA), divulgaram um novo relatório, na esperança de estimular o governo Biden a escrever o próximo plano federal de 5 anos para arrendamento de petróleo e gás offshore.
O plano atual termina em 30 de junho e a indústria espera que um novo plano possa passar pelas etapas regulatórias a tempo de evitar uma lacuna entre os planos. Aparentemente está bastante claro que não haverá um programa de arrendamento em vigor até o primeiro de julho.
O processo de desenvolvimento de um novo plano de 5 anos requer a emissão de um rascunho de regra proposta e um rascunho de declaração de impacto ambiental, depois uma regra proposta (possivelmente mais restrita em escopo do que o rascunho da regra proposta), depois uma regra final e as duas primeiras etapas necessidade de incluir a coleta e consideração de comentários públicos antes que o estágio subsequente possa ser acionado. Não há nenhuma indicação de que isso aconteça em breve.
Enfim, mesmo com a “sinalização” anterior do Departamento do Interior, de fato, a disposição do Governo atual não parece muito favorável a indústria. Isso só reforça o sentimento de insegurança para novos investimentos.
Plano em execução
Essa questão da liberação das reservas estratégicas é matematicamente simples. Desde outubro de 2021 foram vendidos 53 Mb, numa média diária de 380 mil barris dia (mbpd). A média de vendas diárias para o período fevereiro/março de 2021 sobe para 515 mbpd.
Ou seja, mais uma bravata, na realidade a venda de 1 Mbpd daqui para frente, adicionará ao mercado apenas 500 mbpd e não 1 Mbpd. Então, cuidado com o que se deseja. Vamos seguir.
Nos dados divulgados ontem, dia 30/03, pela EIA, os estoques estratégicos (SPR) registravam um montante de 571 Mb, ou seja, na velocidade de venda de 1 Mbpd ,as SPR se esgotariam em 571 dias ou aproximadamente 18 meses, quase no final do mandado Biden.
É aqui que as coisas começam a fazer sentido estratégico, pelo menos para o Congressional Progressive Caucus.
Os falcões climáticos democratas do Senado, liderados pelo senador Ed Markey, divulgaram ontem um plano de três etapas para alcançar a independência energética dos EUA (eu pensava que eles já eram!) por meio de um aumento maciço de energia renovável, uma proibição permanente das importações de petróleo russo e uma liberação maciça das reservas estratégicas (SPR) para aliviar os preços ao consumidor na bomba. O plano é estruturado (quem abrir o link acima verá como é estruturado) como um caminho de 500 dias para a independência energética e apresenta projetos de lei já apresentados por democratas preocupados com o clima.
Então, será que 571 Mb de SPR, liberação de 1 Mbpd e plano estruturado de 500 dias, são apenas números coincidentes?
Conclusão
Ontem estava conversando com um estrategista do mercado corporativo sobre esse assunto e ele me falou uma coisa que me preocupou muito. Que estamos indo para o ALL IN.
Faz tanto sentido que me deixou muito preocupado, não que de certo, mas sim que de errado. Como estamos acostumados no Brasil, os planos apresentados pelos Progressistas americanos, assim como vimos entre 2010 e 2015, são apenas um grupo de intenções sem estrutura, como um MOU, sem explicar como se vai de A para B, quanto tempo leva e quanto será gasto.
É impossível botar de pé uma quantidade de projetos renováveis em 500 dias, quando as SPR americanas, em tese, acabam.
Como disse acima, a Rússia está apenas se aproveitando da ideia do Fórum de Davos de uma transição desordenada e ganhando espaço geopolítico. O preço da gasolina americana está no preço atual devido a polícia climática americana.